segunda-feira, 21 de julho de 2014

O começo da produção individual

Escolhido o assunto e com as informações sobre ele em mãos,
diga aos alunos que chegou a hora de escrever a visão pessoal
deles sobre o fato, usando imaginação, inventividade, lirismo e
humor.
Dê aos alunos alguns minutos para planejar a escrita da crôni-
ca, respondendo para si mesmos as seguintes perguntas:
Qual o foco narrativo?
Quem são as personagens?
Qual o enredo, como, onde e quando vai se desenrolar a
narrativa?
Vou narrar em tom humorístico, lírico, irônico ou crítico?
Existe um elemento surpresa?
Como vai ser o desfecho?
Aberto ou conclusivo?
Cobrança
Moacyr Scliar
 Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
 — Você não pode fazer isso comigo — protestou ela.
 — Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
 — Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
 — Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
 — Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
 — Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
 Neste momento começou a chuviscar.
 — Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente.
 Ele riu, amargo:
 — E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
 — Posso lhe dar um guarda-chuva...
 — Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
 Ela agora estava irritada:
 — Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
 — Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
 Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
 TÍTULO E AUTOR
TEMA, ASSUNTO E CENÁRIO 
SITUAÇÃO DO COTIDIANO RETRATADA 
TOM DO TEXTO E FOCO NARRATIVO 
 "A última crônica"
Fernando Sabino



 "Um caso de Burro"
Machado de Assis



 "Peladas"
Armando Nogueira



 "O amor acaba"
Paulo Mendes



 "cobrança"
Moacyr Scliar









1. Discurso direto: o narrador reproduz textualmente as pala-
vras, falas, as características da personagem. Ao construir o dis-
curso direto, o autor atualiza o acontecimento, tornando viva e
natural a personagem, a cena. Como se fosse uma peça teatral, o
autor agiliza a narrativa. Usa-se o travessão e certos verbos espe-
ciais, que chamamos de verbos “de dizer” ou verbos dicend (falar,
dizer, responder, retrucar, indagar, declarar, exclamar).
2. Discurso indireto: o narrador “conta” o que a personagem
disse. Conhecemos suas palavras indiretamente. Há uma intensa
identidade, quase se misturam narrador e personagem.
3. Discurso indireto livre ou misto: o narrador incorpora na sua
linguagem a fala das personagens e assim nos transmite a essên-
cia do pensamento ou do sentimento. No discurso indireto livre
existe a inserção sutil da fala da personagem sem as marcas do
discurso direto, porém com toda a sua força e vivacidade.
ESTRATÉGIA DE LEITURA
Existem alguns modos de mostrar como um texto é estruturado ou
apontar determinados recursos linguísticos. Um deles é solicitar-lhes
que sublinhem ou circulem – de diferentes cores – os elementos que
se quer destacar. Ao longo das oficinas, esse recurso será usado algu-
mas vezes. Você e seus alunos poderão fazer isso por meio do CD, com
o texto projetado na parede.