segunda-feira, 21 de julho de 2014

O começo da produção individual

Escolhido o assunto e com as informações sobre ele em mãos,
diga aos alunos que chegou a hora de escrever a visão pessoal
deles sobre o fato, usando imaginação, inventividade, lirismo e
humor.
Dê aos alunos alguns minutos para planejar a escrita da crôni-
ca, respondendo para si mesmos as seguintes perguntas:
Qual o foco narrativo?
Quem são as personagens?
Qual o enredo, como, onde e quando vai se desenrolar a
narrativa?
Vou narrar em tom humorístico, lírico, irônico ou crítico?
Existe um elemento surpresa?
Como vai ser o desfecho?
Aberto ou conclusivo?
Cobrança
Moacyr Scliar
 Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
 — Você não pode fazer isso comigo — protestou ela.
 — Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
 — Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
 — Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
 — Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
 — Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
 Neste momento começou a chuviscar.
 — Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente.
 Ele riu, amargo:
 — E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
 — Posso lhe dar um guarda-chuva...
 — Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
 Ela agora estava irritada:
 — Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
 — Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
 Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
 TÍTULO E AUTOR
TEMA, ASSUNTO E CENÁRIO 
SITUAÇÃO DO COTIDIANO RETRATADA 
TOM DO TEXTO E FOCO NARRATIVO 
 "A última crônica"
Fernando Sabino



 "Um caso de Burro"
Machado de Assis



 "Peladas"
Armando Nogueira



 "O amor acaba"
Paulo Mendes



 "cobrança"
Moacyr Scliar









1. Discurso direto: o narrador reproduz textualmente as pala-
vras, falas, as características da personagem. Ao construir o dis-
curso direto, o autor atualiza o acontecimento, tornando viva e
natural a personagem, a cena. Como se fosse uma peça teatral, o
autor agiliza a narrativa. Usa-se o travessão e certos verbos espe-
ciais, que chamamos de verbos “de dizer” ou verbos dicend (falar,
dizer, responder, retrucar, indagar, declarar, exclamar).
2. Discurso indireto: o narrador “conta” o que a personagem
disse. Conhecemos suas palavras indiretamente. Há uma intensa
identidade, quase se misturam narrador e personagem.
3. Discurso indireto livre ou misto: o narrador incorpora na sua
linguagem a fala das personagens e assim nos transmite a essên-
cia do pensamento ou do sentimento. No discurso indireto livre
existe a inserção sutil da fala da personagem sem as marcas do
discurso direto, porém com toda a sua força e vivacidade.
ESTRATÉGIA DE LEITURA
Existem alguns modos de mostrar como um texto é estruturado ou
apontar determinados recursos linguísticos. Um deles é solicitar-lhes
que sublinhem ou circulem – de diferentes cores – os elementos que
se quer destacar. Ao longo das oficinas, esse recurso será usado algu-
mas vezes. Você e seus alunos poderão fazer isso por meio do CD, com
o texto projetado na parede.

terça-feira, 24 de junho de 2014

SOBRE A CRÔNICA “UM CASO DE BURRO”

        I.         I.   ESSE TÍTULO DESPERTA A ATENÇÃO DO LEITOR? POR QUÊ?
      II.            O QUE ELE SUGERE?
    III.            PELO TÍTULO DÁ PARA IMAGINAR O ASSUNTO DA CRÔNICA?
    IV.            ELE INSINUA DE QUE PERSONAGENS A CRÔNICA IRÁ TRATAR? QUAL O CENÁRIO?
      V.            O TEXTO CORRESPONDEU ÀS EXPECTATIVAS LEVANTADAS PELO TÍTULO?
    VI.            QUAL É O FOCO NARRATIVO? O AUTOR É PERSONAGEM, USA A PRIMEIRA PESSOA OU NÃO SE ENVOLVE, APENAS CONTA O QUE ACONTECEU COM OUTROS?
  VII.            QUE IDEIAS E EMOÇÕES FORAM DESPERTADAS PELA LEITURA?
VIII.            PARA MACHADO, O BURRO É METÁFORA DE QUEM OU DE QUÊ?
    IX.            ONDE MACHADO EMPREGA O RECURSO DA PROSOPOPEIA?


quarta-feira, 11 de junho de 2014

A crônica, PELADAS, resolvi postar mais de uma vez por causa da formatação.
Portanto, vocês é que irão decidir qual dos textos irão imprimir. Os três são o mesmo, só muda o formato.
GLAUCIA VARONE
 Peladas 
Armando Nogueira
 Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.
 E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.
 Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa.
 Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
 Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho. Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA – Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.
 No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.
 Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.
 Nova saída.
 Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.
 O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança.
 O amor acaba 
Paulo Mendes Campos
 O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania∗ da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
 Um caso de burro 
Machado de Assis 
 Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais. 
 Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim. 
 Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos. Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez – ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
 O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente. 
 E diria o burro consigo: 
 “Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade.” 

 “Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei.” 
 “A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada – ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...” 
 Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
 Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto. 

 Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 
 Peladas 
Armando Nogueira 
 Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto. 
 E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha. 
 Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa. 
 Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula. 
 Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho. Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA – Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty. 
 No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha. 
 Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura. 
 Nova saída. 
 Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas. 
 O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

  (Foto: Flickr/ Creative Commons)
Ingerir gordura não saturada, como a contida no azeite de oliva, juntamente com vegetais de folhas verdes, gera um tipo de ácido-graxo que reduz a pressão arterial, revelaram cientistas britânicos nesta segunda-feira.
O estudo com ratos de laboratório ajuda a entender trabalhos anteriores, segundo os quais a dieta mediterrânea combate a hipertensão, e foi publicado nos Estados Unidos e financiado pela British Heart Foundation. Esta dieta inclui lipídios não saturados contidos no azeite de oliva contém e em alguns frutos secos, bem como espinafre, aipo, abacate e cenouras ricas em nitratos inorgânicos e nitritos, produto da oxidação do nitrogênio.
Os ácidos-graxos em questão parecem inibir uma enzima conhecida como epóxido hidrolase solúvel, que regula a pressão arterial, segundo artigo publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
"Os resultados do nosso estudo ajudam a explicar porque trabalhos anteriores mostraram que uma dieta mediterrânea, combinada com azeite de oliva extra-virgem ou nozes, pode diminuir a incidência de problemas cardiovasculares", disse o co-autor do estudo, Philip Eaton, professor de bioquímica cardiovascular do King's College de Londres.
Enquanto a maioria dos especialistas concorda que a dieta mediterrânea - que consiste em comer verduras, peixe, grãos, ingerir vinho tinto, nozes e azeite - traz benefícios para a saúde, houve até agora pouco consenso sobre como e por quê.


7 cursos grátis para você aprender astronomia na internet




Aprenda sobre astronomia gratuitamente na internet (Foto: eso)



Você não precisa passar o fim de semana inteiro entediado, apenas subindo e descendo o feed de notícias do Facebook. A partir de hoje, todas as sextas-feiras, a GALILEU vai dar dicas de cursos grátis para você fazer na web.
E a primeira sugestão é astronomia. Diversas instituições que têm cursos na área disponibilizam conteúdo online para quem tem pouco tempo ou só pode estudar à distância. Olha só o que você pode fazer direto da sua casa:
Astronomia: Uma Visão Geral I e II
Nos 50 vídeos que compõem as disciplinas, o professor João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, passa pelos principais pontos que envolvem o tema. As aulas são em português.
Física Moderna: Cosmologia
Veduca oferece uma série de cursos em várias áreas. A plataforma ainda libera quizzes e estudos de caso. Leonard Susskind, da Universidade de Stanford, explica Cosmologia em 15 horas de curso disponíveis no site. Os vídeos são legendados.
Fronteiras/Controvérsias na Astrofísica
As 24 aulas ministradas por Charles Bailyn, da Universidade de Yale, abordam temas como testes da relatividade, buracos negros, Big Bang e matéria escura. O curso tem 19 e é legendado.
Introdução à Cosmologia
Disponível gratuitamente no iTunes, o material — que inclui vídeos, áudios e arquivos de Power Point — dão uma visão geral da cosmologia moderna, incluindo discussões sobre estrelas, a Via Láctea, e evidências para compreensão do universo como ele é hoje. O conteúdo é em inglês.
Explorando Buracos Negros
Estudo do efeito físico como base para a compreensão da relatividade geral, astrofísica e elementos da cosmologia. Disponibilizado pelo MIT. Em inglês.
Vida no Universo
Criado pela Universidade Estadual de Ohio, o curso é uma introdução à astrobiologia para quem não é graduado em ciências. Debate questões fundamentais: como se originou a vida na Terra, se existe vida em outros planetas, e qual é o futuro (a longo prazo) da vida no universo. Em inglês.
Os Planetas
Esse é bem inusitado: trata-se de uma série de vídeos em que o cientista americano Carl Sagan explica a Terra, Marte e o Sistema Solar para crianças, em 1977, durante um especial de Natal. Vale a pena para quem busca uma explicação didática. Em inglês.
Acabou o fim de semana e você ainda tem dúvidas sobre o tema? Calma, a gente te ajuda. No dia 23, a GALILEU vai realizar um #FacetoFace com Gustavo F. Porto de Mello, astrofísico e professor da UFRJ, que baterá um papo com os leitores sobre gêmeas solares, zonas habitáveis e até a possibilidade de haver vida no espaço.

Como os algoritmos dominaram o mundo





  O
jornalista Ken Schwencke, do Los Angeles Times, estava dormindo quando, às 6h25 do dia 17 de março, um terremoto sacudiu a Costa Oeste dos EUA. Com o susto, correu para o computador e descobriu que Quakebot, um algoritmo que ele criou, já havia escrito um texto sobre o assunto. O jornal deu um furo de reportagem noticiando os detalhes do tremor antes de todos os outros e fez a fama do algoritmo, que se conecta automaticamente com o Serviço Geológico dos EUA e escreve pequenas notas com os dados.
Mas, afinal, o que é um algoritmo e por que se fala cada vez mais deles? Na matemática, é todo conjunto de regras e operações para fazer cálculos, realizar tarefas ou solucionar problemas. Vem do sobrenome do matemático persa Mohammed al-Khuwarizmi, o pai da álgebra, que viveu no século 9. “É uma espécie de receita culinária para números”, explica Viktor Mayer-Schönberger, professor na Universidade de Oxford. “Por mais complexo, não passa de uma fórmula seguindo regras predefinidas.”
Com o crescimento rápido do acesso a informações digitais, algoritmos como o Quakebot estão por toda a parte. E não falamos apenas dos mais conhecidos, como o algoritmo de pesquisa do Google, ou os da Amazon, Netflix e Pandora, que recomendam livros, filmes e músicas. Já temos algoritmos que detectam infecções em recém-nascidos, evitam engarrafamentos e negociam ações (milhões delas). Veja a seguir áreas nas quais esses programas já estão trazendo grandes avanços e grandes preocupações.

VEÍCULOS > DOS CORREIOS À F-1
Quem comanda o carro autônomo experimental do Google é um algoritmo. Também são algoritmos por trás dos projetos semelhantes da Mercedes, Toyota e Audi mostrados em janeiro na feira de eletrônicos CES, nos EUA. Carros que, sem motorista, são capazes de fazer trajetos que passam por pedestres, ciclistas e semáforos e não causaam acidentes. Durante a feira, as fabricantes estimaram que ainda leva uma década para vermos modelos assim sendo comercializados. Isso significa que os veículos ainda ficam um bom tempo longe do domínio dos algoritmos, certo? Errado. Esses programas já estão rodando por aí faz tempo, numa via de mão única e sem volta.
Um exemplo é o serviço postal UPS, que entrega 16 milhões de encomendas por dia. Desde 2003, são os algoritmos que definem a rota dos quase 100 mil carros, vans e motos que compõem a frota. “Por ano, economizamos 8,5 milhões de litros de combustível e deixamos de emitir 85 mil toneladas de CO2”, calcula Jack Levis, diretor de Gerência de Processos da UPS. Os algoritmos também ajudam a empresa a prever problemas mecânicos. Sensores instalados nos carros de entrega captam dados como ruídos do veículo que alimentam um sistema de previsão de quando as peças devem falhar. Em vez de fazer manutenção preventiva (o que acabava trocando algumas peças que poderiam durar muito mais), a UPS identifica o momento preciso antes da falha, o que, dizem eles, acaba por economizar milhões.
A Fórmula 1 é outro campo onde os algoritmos aceleram. Simon Williams, sócio-fundador da empresa de dados britância QuantumBlack, defende que uma escuderia campeã precisa de boas fórmulas matemáticas. Sua companhia trabalha desde 2011 calculando em tempo real fatores como desgaste de pneus, janelas de pit-stop e estratégia de todos os pilotos. Esses dados geram gráficos para as equipes sobre o melhor momento de parada, qual pneu colocar e qual estratégia adotar de acordo com todos os fatores.
Seguradoras também já usam sensores acoplados aos carros para alimentar fórmulas que interferem no cálculo do valor do seguro de acordo com o comportamento do condutor (veja acima como funciona). “No final das contas, quem dirige melhor paga menos”, diz Flávio Faggion Jr, diretor da Siscorp, empresa que atua no ramo. O sistema, que cresce na Europa e nos EUA, está chegando ao Brasil numa apólice da companhia Porto Seguro voltada a jovens. Após instalar o rastreador da empresa, o jovem ganha 30% de desconto se dirigir abaixo de 90 km/h e não pegar o carro de madrugada por mais de 5% do tempo.
Num futuro não tão distante, algoritmos podem até evitar congestionamentos, como mostra pesquisa de 2013 do professor Berthold Horn, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele criou um sistema que, através de sensores a laser e câmeras, monitora velocidade e distância do veículo à frente e atrás. “O algoritmo reage de maneira suave a mudanças bruscas de velocidade. Esse tipo de sistema reduz o número de batidas e engarrafamentos”, afirma. O aparelho, sem previsão de lançamento, seria útil principalmente para evitar aqueles congestionamentos que começam sem um motivo aparente.
 (Foto: Revista Galileu)

CINEMA > FILMES SOB MEDIDA


Antes de chegar às telonas, boa parte dos roteiros de Hollywood passa pelas mãos de Nick Meaney. Meaney não é agente, cineasta ou produtor. É diretor da Epagogix, empresa britânica que prevê o sucesso de um filme baseado na minuciosa análise de seu roteiro. Em 2006, Meaney submeteu o script de Bem-Vindo ao Jogo à avaliação do algoritmo que ele tinha acabado de criar. O filme tinha tudo para ser sucesso: um roteirista premiado, Drew Barrymore no elenco e o fato de ser rodado em Las Vegas. Bem, segundo as previsões do algoritmo da Epagogix, ele não arrecadaria mais do que US$ 7 milhões — baita prejuízo para um orçamento de US$ 50 milhões. Não deu outra: a produção faturou US$ 6 milhões. “Aponto os pontos fracos. Se o produtor vai mexer no roteiro ou suspender a produção, a decisão é dele”, explica Meaney.
SUCESSO E FRACASSO: Os algoritmos previram tanto a aceitação da série House of Cards quanto a bilheteria pífia de Bem-Vindo ao Jogo (Foto: Divulgação)

Não é mágica. O serviço cruza dados de milhares de variáveis, como elenco, presença de vilões fortes e locação, quantificadas no roteiro. A fórmula analisa como essas variáveis se combinam e o quanto, em produções anteriores, filmes semelhantes arrecadaram. O pesquisador Bernardo Huberman, da HP Labs, faz algo parecido cruzando dados de tuítes sobre filmes na semana anterior ao lançamento. Para Querido John, previu uma arrecadação de US$ 30,5 milhões na primeira semana. O filme arrecadou US$ 30,7 milhões. “Através do número de tuítes, você prevê como um produto vai se sair no mercado”, diz Huberman.
Os  sistemas enfrentam críticas. A série House of Cards, também um sucesso com roteiro “testado antes” por algoritmos, tem sido um dos alvos delas. Em texto no site Salon, o crítico Andrew Leonard questiona se a estratégia não acabará com a diversidade das obras de arte, fazendo que só seja filmado o que os algoritmos indicam. Para ele, isso faria de nós “fantoches estúpidos”.
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 (Foto: Revista Galileu)


 



JORNALISMO > UMA MÁQUINA ESCREVEU ISTO
O título ao lado é falso, mas pode se tornar verdade em pouco tempo. “Dentro de 15 anos, 90% dos textos da imprensa serão escritos por computadores”, prevê Kristian Hammond, CEO da Narrative Science. A empresa, sediada em Chicago, já produz notas jornalísticas a partir de dados recolhidos na internet por algoritmos, sem interferência humana — uma fórmula da companhia já publica notícias sobre queda ou alta de ações automaticamente no site da Forbes, por exemplo. A intenção é que o algoritmo faça o trabalho mais mecânico para que jornalistas tenham tempo de entrevistar, checar fontes e correr atrás de “furos”. Por aqui, a PUC-RJ desenvolveu um software que ajuda repórteres do site globoesporte.com a selecionar aspectos relevantes do jogo e, a partir deles, sugere enfoques para a reportagem. Exemplos disso são textos sobre o jogo com mais faltas do campeonato brasileiro e outro sobre o jogador que bateu o recorde de infrações numa única partida, ambos sugeridos pelo algoritmo. “Eles produzem matérias simples, sem análise ou interpretação”, diz Daniel Schwabe, da PUC-RJ.
 (Foto: Revista Galileu)


 



RELACIONAMENTO > CUPIDO ELETRÔNICO
Pode um algoritmo dizer se o seu relacionamento vai funcionar? O site OkCupid cruza respostas de centenas de questões como “as mulheres devem manter as pernas depiladas?” e “quantas vezes ao dia escova os dentes?” para te indicar a pessoa que mais se aproxima do par perfeito. O algoritmo, feito por quatro matemáticos de Harvard, considera as respostas do usuário, as que esse usuário espera de seu “candidato” e a nota de importância que ele dá às questões — método copiado por outros sites. Mas, aqui entre nós, esses serviços não morrem de amores pelo rigor científico. “Até hoje, nenhum submeteu seus métodos ao crivo de pesquisadores. Dizem que o remédio faz bem, mas não revelam o que há dentro”, critica o psicólogo Harry Reis, da Universidade de Rochester.
 (Foto: Revista Galileu)


 

MEDICINA > DR. HOUSE ROBÔ
O britânico Max Little, professor da Universidade de Oxford, descobriu que poderia diagnosticar sintomas iniciais do Parkinson através de uma simples ligação telefônica. Após gravar 30 segundos de fala, o algoritmo analisa irregularidades na voz, como tremor e instabilidade da língua e dá o diagnóstico — com 99% de acerto, diz.
O algoritmo faz parte de uma tendência de diagnósticos por correlações. Um dos expoentes disso é uma parceria entre a IBM e a Dra. Carolyn McGregor, da Universidade de Ontário (Canadá). Seu algoritmo diagnostica sepse neonatal tardia, uma das principais causas de óbito entre recém-nascidos, antes de os primeiros sintomas aparecerem. O programa analisa diferentes fluxos de dados em tempo real (respiração, batimentos cardíacos, temperatura etc.) e identifica correlações não perceptíveis aos médicos. “Quanto maior a redução na frequência cardiorrespiratória, mais infecção”, diz Carolyn. Algoritmos já são usados também, inclusive no Brasil, para analisar raios X, tomografias e ressonâncias. Eles comparam novos exames com anteriores e detectam mudanças nas imagens, encontrando padrões que passam batido por humanos. A máquina  norte-americana MED-SEG, por exemplo, usa um algoritmo de imagem da Nasa para apontar essas anormalidades.
 (Foto: Revista Galileu)


 

AÇÕES > AS FÓRMULAS DA BOLSA
Em 10 de dezembro de 2010, o russo Sergey Aleynikov foi condenado a oito anos de prisão. Seu crime? Roubar um algoritmo. Ex-programador do banco de investimentos Goldman Sachs, ele foi acusado de furtar um código usado nas transações de alta frequência (HFTs, na sigla em inglês) de Wall Street. Isso porque ele recebia US$ 1,1 milhão por ano.
Em geral, essas transações vêm de softwares que preveem alterações quase imediatas no preço das ações e compram e vendem em microssegundos (veja mais ao lado). Se o objetivo é adquirir papéis da Petrobras a R$ 34,20 e vendê-los a R$ 34,25, tem de ser rápido no gatilho. E eles são. “Um algoritmo alcança velocidade muito superior. Caso ocorra um erro, ele vai tomar proporções bem maiores também”, alerta Rogério Paiva, sócio-diretor da BLK Sistemas Financeiros. Ele cita o caso do “flash crash” de 2010, quando o índice Dow Jones despencou 1.000 pontos em 20 minutos por conta de um algoritmo. Em outro problema recente, de 2013, algoritmos que interpretaram um tuíte errado levaram a um tombo na bolsa estimado em US$ 200 bilhões em apenas três minutos (entenda abaixo).
Essas grandes perdas ocorrem porque as transações ultrarrápidas por algoritmos não são mais um ponto fora da curva. Segundo estimativa da consultora Tabb, a operação já responde por 50% de todo o volume negociado nos EUA, 40% no Japão e 30% na Europa. No Brasil, representa 10% da movimentação da Bovespa. Sócio-fundador da Trader Gráfico, Carlos Martins afirma que as vantagens que os algoritmos levam sobre os operadores de carne e osso são incontáveis. “O mercado de ações exige disciplina, dedicação e sangue frio. Ao contrário dos humanos, os algoritmos trabalham 24 horas por dia, fazem sempre a mesma coisa, sem fugir de regras, e não têm medo de operar”, compara.
 (Foto: Revista Galileu)






















 
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 (Foto: Revista Galileu)


FAIL > O QUE PODE DAR ERRADO QUANDO OS ALGORITMOS FICAM SEM SUPERVISÃO
 (Foto: Revista Galileu)


 

ENTREVISTA: SEAN GOURLEY
> ELES NOS SUBSTITUIRÃO
Criador de algoritmos e consultor, Gourley prevê que eles trarão mais desigualdade

 (Foto: Revista Galileu)











O que os algoritmos trazem de bom e ruim?
Eles podem fazer coisas simples com precisão, rapidez e de forma barata. Já os humanos são tendenciosos, caros e propensos a cometer erros. Mas algoritmos também são primitivos em suas capacidades cognitivas.
Todos seremos controlados por eles?
As finanças, uma das maiores indústrias globais, já são controladas por algoritmos. Governos estão lutando para descobrir como regulá-los e reaver o controle de volta — o que pode ser uma batalha perdida. Agora que os algoritmos aprenderam a se aproximar da escrita utilizando processos estatísticos, vão ler mais rápido do que nós e dominar áreas do conhecimento, como o Direito, onde a leitura é fundamental. Mas humanos e algoritmos unirão forças para resolver os problemas mais difíceis. Chamo isso de “inteligência aumentada”. O único problema é que essa inteligência não deverá ser distribuída igualitariamente. Para piorar, muitos dos postos de trabalho hoje ocupados por pessoas da classe média acabarão ficando com algoritmos.
Correlações matemáticas já resolvem problemas sem identificar o porquê deles. Seria o fim da teoria?
Acho que o [Chris] Anderson exagerou quando defendeu isso [na revista Wired]. No Google, por exemplo, eles tentam determinar o tom de azul perfeito para o link do AdWords, executam milhões de testes sem saber por que essa é a cor certa, e sabem que funciona. Mas eles não estão tentando mudar o mundo. Em situações de conflito, política ou terrorismo você precisa de uma teoria. Noto isso nas redes sociais. Começamos a otimizar algoritmos para mostrar a informação que está de acordo com nossas crenças. Só mostramos a amigos que gostam das informações que compartilhamos. Nos movemos em uma bolha gerada por algoritmos, e não sabemos como eles tomam as decisões. Precisamos ter mais controle. Precisamos de uma teoria.