segunda-feira, 5 de maio de 2014

A quadra velha

Aluno: Gabriel Batista da Silva

Aqui no lugar onde vivo não tem cinema, lan house, discoteca... aqui tem cavalo, rio,
cachoeira, gente que conta histórias... E, acima de tudo, aqui tem uma quadra. Uma quadra
velha. Velha e pequena, só tem espaço para seis jogadores de cada lado. Uma quadra velha
e pequena onde cabe inteira a nossa imensa alegria.
Ali a bola rola, enrola, rebola, embola, solta, samba, sapateia... Ali vale tocar a bola de
chuteira, de chinelo ou de pé no chão. Ali vale jogar menino, menina, velho, magrela e gor-
dão. Vale entrar de sola, de carrinho e até de bicão. Vale arrebentar o joelho, arrancar a
ponta do dedão... tem gol contra, bola murcha e bola fora.
O que importa é que quando a bola rola na quadra velha o mundo para. As árvores e as
casas espiam. As pessoas que passam pela estrada de terra não resistem, param, assoviam,
batem palmas. Os moleques perdem a hora que se perde no tempo. Cada pai vê em seu filho
o grande craque e sonha com seu menino na seleção. Quem sabe 2014...
Ali, na quadra velha e pequena, adormece a tristeza, o cansaço, a desilusão... ali os
homens se esquecem dos calos, das dívidas, das dores... ali os meninos são magos, são li-
vres, são pássaros: transcendem, voam... Ali não tem zero, não tem senão. Só tem bola no
chão. Ali eles são uma bandeira verde e amarela hasteada no sertão.
Isso, até que chega a noite escura e sombria. Ela, revestida de negro, faz arriar o sonho,
despe a fantasia, cala a poesia.
Amanhã tem trabalho, tem escola. Dói o calo, o joelho incha, o moleque chora. E a
quadra fica de fato velha e pequena. Fica ali, triste, silenciosa, no escuro. Fica ali à espera de que os meninos voltem logo e ressuscitem o momento mágico.

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