segunda-feira, 5 de maio de 2014

Agradando a gregos e troianos

Aluna: Giovanna Scalabrini Antunes

Moro em Maringá praticamente desde que nasci e poderia dizer que cidade mais
bela não há (limpa, arborizada, poucos crimes, muitos empregos...), não fosse pela
rodoviária velha maldemolida.
Há um tempo atrás a prefeitura ordenou a demolição, pois o prédio estava con-
denado, mas os funcionários pararam o serviço na metade (por questões políticas,
quem sabe...).
Reza a lenda que em um belo dia na prefeitura um vereador iniciou a seguinte
discussão:
— Senhor prefeito, acredito que aquela rodoviária não há de servir para mais
nada, tanto que fiz uma pesquisa – disse o homem – e tivemos um resultado curioso.
Pegou um papel em seu bolso, desdobrou cuidadosamente e entregou ao seu superior, que falou:
— 50% da população concorda com a demolição e... 50% não?
— Exatamente.
— É complicado. Tenho que fazer alguma coisa para agradar esse povo, senão...
– constatou o prefeito. — Alguém tem alguma sugestão?
Um silêncio desconfortável instalou-se na sala de reuniões. Muitos daqueles que
lá se encontravam pensaram (mas não falaram) nas mais nobres ideias: “Podemos
conversar com o síndico”, “É melhor se entender com o juiz”. Foi quando uma misteriosa
voz surgiu ao fundo da sala.
— Licença – era o faxineiro. — Eu tenho uma proposta.
O senhor largou a vassoura de lado e aproximou-se dos políticos.
— Já que é o único a ter alguma ideia, diga senhor...
— José.
— Diga, senhor José.
— Pois bem – pigarreou, sentindo-se importante. — Já que metade da população
quer que destrua a rodoviária e a outra metade não... Destrói só metade dela, uai!
Assim todo mundo fica contente.
Se o prefeito decidiu pôr em prática a ideia do humilde faxineiro, ninguém sabe...
Só sabemos que enquanto ele não der segundas ordens, continuaremos com uma
rodoviária demolida pela metade “embelezando” nossa cidade.

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