segunda-feira, 5 de maio de 2014

Até na igreja, Evaristo?

Aluno: Carlos Eduardo Silva

Ao lado de castanheiras, latidos de cães, choros de crianças, gritos de vendedores ambu-
lantes... e nas casas o forte cheiro de café passado na hora anuncia o despertar de mais um
dia na Vila Taquaril. Com toda a disposição, Evaristo se levanta animado, pois era um dia
muito importante para seu time: jogaria pela primeira vez num amistoso.
Evaristo era a pessoa mais conhecida da Vila, morava no melhor ponto: a Praça Alegria.
Por ser uma pessoa muito influente na Vila, tinha como dever participar de todos os eventos
que lá aconteciam.
Como fã nº -1 do seu time, o Tabajara, Evaristo era um especialista na arte do futebol,
sempre fora convidado para ajudar nos treinos dos jogadores mirins, nas manhãs de domin-
go. Enquanto treinava os meninos, Evaristo escutou o sino da igreja dando três badaladas.
Diante dessa situação Evaristo ficou muito aflito, andava de um lado para outro, escu-
tando o anúncio que atormentava sua cabeça.
— Atenção! Hoje haverá missa especial para os moradores às 18 horas. Contamos com
a presença de todos!
“E agora? O que fazer? O jogo está marcado para o mesmo horário da missa!”, pensou ele.
Religioso como ele só e fanático como ele era, não poderia deixar de participar dos dois
compromissos. Assim ele teve uma grande ideia: levaria seu radinho de pilhas à igreja, sen-
taria no último banco e usaria uma jaqueta com capuz onde colocaria seu radinho.
A partir desse momento, a ansiedade contagiava Evaristo, que a todo momento olhava
o relógio na expectativa da hora do jogo.
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E as horas se foram... a noite apareceu com uma lua radiante, digna de uma missa com
tom bem especial: ação de graças para os devotos e o pedido especial de Evaristo, a grande
vitória do timão Tabajara.
Apesar dos olhares desconfiados das pessoas presentes à missa, Evaristo não se inco-
modou e colocou o seu plano em ação: assentou-se no último banco e ligou o radinho, o
jogo estava começando...
À medida que o jogo esquentava as expressões faciais dele mudavam o tempo todo, não
sabia se prestava atenção no padre Donizete ou no narrador do jogo, Salomão.
Tabajara estava sofrendo pressão do time adversário, o Flamengo. Seu time começou a
contra-atacar, suas mãos ficaram frias e suavam desesperadamente. O atacante Peladinha
estava perto do gol... e ao longe o padre se aproximava de Evaristo, notando a angústia no
rosto dele. Quando o padre ia dizer a primeira palavra, surgiu um grito forte e aliviado:
— GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!
Todos olharam para trás e o padre Donizete perguntou:
— O que é isso, meu filho?
— GOOOL! GOOOL! – exclamou Evaristo.
— Você não pode gritar em uma igreja, senhor Evaristo!!
— Gol do Peladinha, do meu timão, o Tabajara!
— Do Tabajara? O meu Tabajara?
— Sim! O NOSSO Tabajara!
Então, os dois disseram ao mesmo tempo:
— GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!
Enquanto os devotos da igreja discutiam o caso, o padre e o Evaristo pegaram seus
radinhos e saíram da igreja festejando a vitória do seu time.

Professora: Leda Maria Avila Silva

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