segunda-feira, 5 de maio de 2014

As cidades

Aluna: Danielly Cristine Justino da Silva

Caro leitor, esta crônica é sobre minha prima Maria, uma nordestina de 18 anos que
sonhava morar na Cidade Maravilhosa. Não vá pensando que ela é como a personagem
“Macabéa”, do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, pois não é. Eu a conheço bem,
conversamos muito pela internet e, nessa viagem, sou seu cúmplice.
Ao ver Maria descendo do ônibus, na rodoviária, eu era capaz de saber o que ela trazia
na alma e no pensamento. Sabe aquilo que se sente quando se é criança e que quando se
é adulto atinge um alto grau de plano orientado para um dado fim real?
Pois bem, ao sonho ela misturou determinação, curiosidade, devaneio e outros ingre-
dientes. Com essa combinação, eis o que se formou: esperança, lugar fértil para continua-
ção. Ela acreditava que só imaginar fortemente uma vida, mesmo encontrando-se noutra, o
imaginado agiria lentamente sobre o destino a favor da realização.
E na minha frente, de braços abertos, estava ela à minha espera.
A caminho de minha casa, o deslumbramento dela, com as belezas naturais e arquitetô-
nicas da cidade, era quase infantil. Quando viu a praia, seus olhos eram só encantamentos.
“Tudo o que poderia existir de belo já existe, nada mais poderá ser criado, apenas revelado”,
disse-me, sem se deixar abstrair do mundo lá fora, que pulsava vivo e cheio de possibilidades.
Chegando à Rocinha, seus olhos a pegaram desprevenida. Era outro Rio de Janeiro –
uma cidade dentro de outra. Uma cidade oculta, que os cartões-postais não mostravam.
Era uma cidade viva e envergonhada de mostrar tanta força, de gente perdida e miúda,
coberta de um viver mecânico e barulhento, e também de pessoas boas e conscientes.
“Pena que essas pessoas não sabem que podem, se a consciência fosse avivada pela noção
das coisas ao redor.” “Não lhe deram os remédios destinados a unir o homem às ideias e institui-
ções?”, perguntou-me depois de um longo silêncio. Não me pareceu que ela quisesse realmente
uma resposta, por isso fiquei em silêncio a observando. Ela, sem mudar a direção de seu olhar,
exclamou: “Isso aqui é um mundo, primo!” Respondi: “É o lugar onde eu vivo, onde você viverá!”
Professora: Damiana Maria de Carvalho
Escola: E. M. Pereira Passos  • Cidade: Rio de Janeiro – RJ

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