terça-feira, 20 de maio de 2014

  (Foto: Flickr/ Creative Commons)
Ingerir gordura não saturada, como a contida no azeite de oliva, juntamente com vegetais de folhas verdes, gera um tipo de ácido-graxo que reduz a pressão arterial, revelaram cientistas britânicos nesta segunda-feira.
O estudo com ratos de laboratório ajuda a entender trabalhos anteriores, segundo os quais a dieta mediterrânea combate a hipertensão, e foi publicado nos Estados Unidos e financiado pela British Heart Foundation. Esta dieta inclui lipídios não saturados contidos no azeite de oliva contém e em alguns frutos secos, bem como espinafre, aipo, abacate e cenouras ricas em nitratos inorgânicos e nitritos, produto da oxidação do nitrogênio.
Os ácidos-graxos em questão parecem inibir uma enzima conhecida como epóxido hidrolase solúvel, que regula a pressão arterial, segundo artigo publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
"Os resultados do nosso estudo ajudam a explicar porque trabalhos anteriores mostraram que uma dieta mediterrânea, combinada com azeite de oliva extra-virgem ou nozes, pode diminuir a incidência de problemas cardiovasculares", disse o co-autor do estudo, Philip Eaton, professor de bioquímica cardiovascular do King's College de Londres.
Enquanto a maioria dos especialistas concorda que a dieta mediterrânea - que consiste em comer verduras, peixe, grãos, ingerir vinho tinto, nozes e azeite - traz benefícios para a saúde, houve até agora pouco consenso sobre como e por quê.


7 cursos grátis para você aprender astronomia na internet




Aprenda sobre astronomia gratuitamente na internet (Foto: eso)



Você não precisa passar o fim de semana inteiro entediado, apenas subindo e descendo o feed de notícias do Facebook. A partir de hoje, todas as sextas-feiras, a GALILEU vai dar dicas de cursos grátis para você fazer na web.
E a primeira sugestão é astronomia. Diversas instituições que têm cursos na área disponibilizam conteúdo online para quem tem pouco tempo ou só pode estudar à distância. Olha só o que você pode fazer direto da sua casa:
Astronomia: Uma Visão Geral I e II
Nos 50 vídeos que compõem as disciplinas, o professor João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, passa pelos principais pontos que envolvem o tema. As aulas são em português.
Física Moderna: Cosmologia
Veduca oferece uma série de cursos em várias áreas. A plataforma ainda libera quizzes e estudos de caso. Leonard Susskind, da Universidade de Stanford, explica Cosmologia em 15 horas de curso disponíveis no site. Os vídeos são legendados.
Fronteiras/Controvérsias na Astrofísica
As 24 aulas ministradas por Charles Bailyn, da Universidade de Yale, abordam temas como testes da relatividade, buracos negros, Big Bang e matéria escura. O curso tem 19 e é legendado.
Introdução à Cosmologia
Disponível gratuitamente no iTunes, o material — que inclui vídeos, áudios e arquivos de Power Point — dão uma visão geral da cosmologia moderna, incluindo discussões sobre estrelas, a Via Láctea, e evidências para compreensão do universo como ele é hoje. O conteúdo é em inglês.
Explorando Buracos Negros
Estudo do efeito físico como base para a compreensão da relatividade geral, astrofísica e elementos da cosmologia. Disponibilizado pelo MIT. Em inglês.
Vida no Universo
Criado pela Universidade Estadual de Ohio, o curso é uma introdução à astrobiologia para quem não é graduado em ciências. Debate questões fundamentais: como se originou a vida na Terra, se existe vida em outros planetas, e qual é o futuro (a longo prazo) da vida no universo. Em inglês.
Os Planetas
Esse é bem inusitado: trata-se de uma série de vídeos em que o cientista americano Carl Sagan explica a Terra, Marte e o Sistema Solar para crianças, em 1977, durante um especial de Natal. Vale a pena para quem busca uma explicação didática. Em inglês.
Acabou o fim de semana e você ainda tem dúvidas sobre o tema? Calma, a gente te ajuda. No dia 23, a GALILEU vai realizar um #FacetoFace com Gustavo F. Porto de Mello, astrofísico e professor da UFRJ, que baterá um papo com os leitores sobre gêmeas solares, zonas habitáveis e até a possibilidade de haver vida no espaço.

Como os algoritmos dominaram o mundo





  O
jornalista Ken Schwencke, do Los Angeles Times, estava dormindo quando, às 6h25 do dia 17 de março, um terremoto sacudiu a Costa Oeste dos EUA. Com o susto, correu para o computador e descobriu que Quakebot, um algoritmo que ele criou, já havia escrito um texto sobre o assunto. O jornal deu um furo de reportagem noticiando os detalhes do tremor antes de todos os outros e fez a fama do algoritmo, que se conecta automaticamente com o Serviço Geológico dos EUA e escreve pequenas notas com os dados.
Mas, afinal, o que é um algoritmo e por que se fala cada vez mais deles? Na matemática, é todo conjunto de regras e operações para fazer cálculos, realizar tarefas ou solucionar problemas. Vem do sobrenome do matemático persa Mohammed al-Khuwarizmi, o pai da álgebra, que viveu no século 9. “É uma espécie de receita culinária para números”, explica Viktor Mayer-Schönberger, professor na Universidade de Oxford. “Por mais complexo, não passa de uma fórmula seguindo regras predefinidas.”
Com o crescimento rápido do acesso a informações digitais, algoritmos como o Quakebot estão por toda a parte. E não falamos apenas dos mais conhecidos, como o algoritmo de pesquisa do Google, ou os da Amazon, Netflix e Pandora, que recomendam livros, filmes e músicas. Já temos algoritmos que detectam infecções em recém-nascidos, evitam engarrafamentos e negociam ações (milhões delas). Veja a seguir áreas nas quais esses programas já estão trazendo grandes avanços e grandes preocupações.

VEÍCULOS > DOS CORREIOS À F-1
Quem comanda o carro autônomo experimental do Google é um algoritmo. Também são algoritmos por trás dos projetos semelhantes da Mercedes, Toyota e Audi mostrados em janeiro na feira de eletrônicos CES, nos EUA. Carros que, sem motorista, são capazes de fazer trajetos que passam por pedestres, ciclistas e semáforos e não causaam acidentes. Durante a feira, as fabricantes estimaram que ainda leva uma década para vermos modelos assim sendo comercializados. Isso significa que os veículos ainda ficam um bom tempo longe do domínio dos algoritmos, certo? Errado. Esses programas já estão rodando por aí faz tempo, numa via de mão única e sem volta.
Um exemplo é o serviço postal UPS, que entrega 16 milhões de encomendas por dia. Desde 2003, são os algoritmos que definem a rota dos quase 100 mil carros, vans e motos que compõem a frota. “Por ano, economizamos 8,5 milhões de litros de combustível e deixamos de emitir 85 mil toneladas de CO2”, calcula Jack Levis, diretor de Gerência de Processos da UPS. Os algoritmos também ajudam a empresa a prever problemas mecânicos. Sensores instalados nos carros de entrega captam dados como ruídos do veículo que alimentam um sistema de previsão de quando as peças devem falhar. Em vez de fazer manutenção preventiva (o que acabava trocando algumas peças que poderiam durar muito mais), a UPS identifica o momento preciso antes da falha, o que, dizem eles, acaba por economizar milhões.
A Fórmula 1 é outro campo onde os algoritmos aceleram. Simon Williams, sócio-fundador da empresa de dados britância QuantumBlack, defende que uma escuderia campeã precisa de boas fórmulas matemáticas. Sua companhia trabalha desde 2011 calculando em tempo real fatores como desgaste de pneus, janelas de pit-stop e estratégia de todos os pilotos. Esses dados geram gráficos para as equipes sobre o melhor momento de parada, qual pneu colocar e qual estratégia adotar de acordo com todos os fatores.
Seguradoras também já usam sensores acoplados aos carros para alimentar fórmulas que interferem no cálculo do valor do seguro de acordo com o comportamento do condutor (veja acima como funciona). “No final das contas, quem dirige melhor paga menos”, diz Flávio Faggion Jr, diretor da Siscorp, empresa que atua no ramo. O sistema, que cresce na Europa e nos EUA, está chegando ao Brasil numa apólice da companhia Porto Seguro voltada a jovens. Após instalar o rastreador da empresa, o jovem ganha 30% de desconto se dirigir abaixo de 90 km/h e não pegar o carro de madrugada por mais de 5% do tempo.
Num futuro não tão distante, algoritmos podem até evitar congestionamentos, como mostra pesquisa de 2013 do professor Berthold Horn, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele criou um sistema que, através de sensores a laser e câmeras, monitora velocidade e distância do veículo à frente e atrás. “O algoritmo reage de maneira suave a mudanças bruscas de velocidade. Esse tipo de sistema reduz o número de batidas e engarrafamentos”, afirma. O aparelho, sem previsão de lançamento, seria útil principalmente para evitar aqueles congestionamentos que começam sem um motivo aparente.
 (Foto: Revista Galileu)

CINEMA > FILMES SOB MEDIDA


Antes de chegar às telonas, boa parte dos roteiros de Hollywood passa pelas mãos de Nick Meaney. Meaney não é agente, cineasta ou produtor. É diretor da Epagogix, empresa britânica que prevê o sucesso de um filme baseado na minuciosa análise de seu roteiro. Em 2006, Meaney submeteu o script de Bem-Vindo ao Jogo à avaliação do algoritmo que ele tinha acabado de criar. O filme tinha tudo para ser sucesso: um roteirista premiado, Drew Barrymore no elenco e o fato de ser rodado em Las Vegas. Bem, segundo as previsões do algoritmo da Epagogix, ele não arrecadaria mais do que US$ 7 milhões — baita prejuízo para um orçamento de US$ 50 milhões. Não deu outra: a produção faturou US$ 6 milhões. “Aponto os pontos fracos. Se o produtor vai mexer no roteiro ou suspender a produção, a decisão é dele”, explica Meaney.
SUCESSO E FRACASSO: Os algoritmos previram tanto a aceitação da série House of Cards quanto a bilheteria pífia de Bem-Vindo ao Jogo (Foto: Divulgação)

Não é mágica. O serviço cruza dados de milhares de variáveis, como elenco, presença de vilões fortes e locação, quantificadas no roteiro. A fórmula analisa como essas variáveis se combinam e o quanto, em produções anteriores, filmes semelhantes arrecadaram. O pesquisador Bernardo Huberman, da HP Labs, faz algo parecido cruzando dados de tuítes sobre filmes na semana anterior ao lançamento. Para Querido John, previu uma arrecadação de US$ 30,5 milhões na primeira semana. O filme arrecadou US$ 30,7 milhões. “Através do número de tuítes, você prevê como um produto vai se sair no mercado”, diz Huberman.
Os  sistemas enfrentam críticas. A série House of Cards, também um sucesso com roteiro “testado antes” por algoritmos, tem sido um dos alvos delas. Em texto no site Salon, o crítico Andrew Leonard questiona se a estratégia não acabará com a diversidade das obras de arte, fazendo que só seja filmado o que os algoritmos indicam. Para ele, isso faria de nós “fantoches estúpidos”.
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 (Foto: Revista Galileu)


 



JORNALISMO > UMA MÁQUINA ESCREVEU ISTO
O título ao lado é falso, mas pode se tornar verdade em pouco tempo. “Dentro de 15 anos, 90% dos textos da imprensa serão escritos por computadores”, prevê Kristian Hammond, CEO da Narrative Science. A empresa, sediada em Chicago, já produz notas jornalísticas a partir de dados recolhidos na internet por algoritmos, sem interferência humana — uma fórmula da companhia já publica notícias sobre queda ou alta de ações automaticamente no site da Forbes, por exemplo. A intenção é que o algoritmo faça o trabalho mais mecânico para que jornalistas tenham tempo de entrevistar, checar fontes e correr atrás de “furos”. Por aqui, a PUC-RJ desenvolveu um software que ajuda repórteres do site globoesporte.com a selecionar aspectos relevantes do jogo e, a partir deles, sugere enfoques para a reportagem. Exemplos disso são textos sobre o jogo com mais faltas do campeonato brasileiro e outro sobre o jogador que bateu o recorde de infrações numa única partida, ambos sugeridos pelo algoritmo. “Eles produzem matérias simples, sem análise ou interpretação”, diz Daniel Schwabe, da PUC-RJ.
 (Foto: Revista Galileu)


 



RELACIONAMENTO > CUPIDO ELETRÔNICO
Pode um algoritmo dizer se o seu relacionamento vai funcionar? O site OkCupid cruza respostas de centenas de questões como “as mulheres devem manter as pernas depiladas?” e “quantas vezes ao dia escova os dentes?” para te indicar a pessoa que mais se aproxima do par perfeito. O algoritmo, feito por quatro matemáticos de Harvard, considera as respostas do usuário, as que esse usuário espera de seu “candidato” e a nota de importância que ele dá às questões — método copiado por outros sites. Mas, aqui entre nós, esses serviços não morrem de amores pelo rigor científico. “Até hoje, nenhum submeteu seus métodos ao crivo de pesquisadores. Dizem que o remédio faz bem, mas não revelam o que há dentro”, critica o psicólogo Harry Reis, da Universidade de Rochester.
 (Foto: Revista Galileu)


 

MEDICINA > DR. HOUSE ROBÔ
O britânico Max Little, professor da Universidade de Oxford, descobriu que poderia diagnosticar sintomas iniciais do Parkinson através de uma simples ligação telefônica. Após gravar 30 segundos de fala, o algoritmo analisa irregularidades na voz, como tremor e instabilidade da língua e dá o diagnóstico — com 99% de acerto, diz.
O algoritmo faz parte de uma tendência de diagnósticos por correlações. Um dos expoentes disso é uma parceria entre a IBM e a Dra. Carolyn McGregor, da Universidade de Ontário (Canadá). Seu algoritmo diagnostica sepse neonatal tardia, uma das principais causas de óbito entre recém-nascidos, antes de os primeiros sintomas aparecerem. O programa analisa diferentes fluxos de dados em tempo real (respiração, batimentos cardíacos, temperatura etc.) e identifica correlações não perceptíveis aos médicos. “Quanto maior a redução na frequência cardiorrespiratória, mais infecção”, diz Carolyn. Algoritmos já são usados também, inclusive no Brasil, para analisar raios X, tomografias e ressonâncias. Eles comparam novos exames com anteriores e detectam mudanças nas imagens, encontrando padrões que passam batido por humanos. A máquina  norte-americana MED-SEG, por exemplo, usa um algoritmo de imagem da Nasa para apontar essas anormalidades.
 (Foto: Revista Galileu)


 

AÇÕES > AS FÓRMULAS DA BOLSA
Em 10 de dezembro de 2010, o russo Sergey Aleynikov foi condenado a oito anos de prisão. Seu crime? Roubar um algoritmo. Ex-programador do banco de investimentos Goldman Sachs, ele foi acusado de furtar um código usado nas transações de alta frequência (HFTs, na sigla em inglês) de Wall Street. Isso porque ele recebia US$ 1,1 milhão por ano.
Em geral, essas transações vêm de softwares que preveem alterações quase imediatas no preço das ações e compram e vendem em microssegundos (veja mais ao lado). Se o objetivo é adquirir papéis da Petrobras a R$ 34,20 e vendê-los a R$ 34,25, tem de ser rápido no gatilho. E eles são. “Um algoritmo alcança velocidade muito superior. Caso ocorra um erro, ele vai tomar proporções bem maiores também”, alerta Rogério Paiva, sócio-diretor da BLK Sistemas Financeiros. Ele cita o caso do “flash crash” de 2010, quando o índice Dow Jones despencou 1.000 pontos em 20 minutos por conta de um algoritmo. Em outro problema recente, de 2013, algoritmos que interpretaram um tuíte errado levaram a um tombo na bolsa estimado em US$ 200 bilhões em apenas três minutos (entenda abaixo).
Essas grandes perdas ocorrem porque as transações ultrarrápidas por algoritmos não são mais um ponto fora da curva. Segundo estimativa da consultora Tabb, a operação já responde por 50% de todo o volume negociado nos EUA, 40% no Japão e 30% na Europa. No Brasil, representa 10% da movimentação da Bovespa. Sócio-fundador da Trader Gráfico, Carlos Martins afirma que as vantagens que os algoritmos levam sobre os operadores de carne e osso são incontáveis. “O mercado de ações exige disciplina, dedicação e sangue frio. Ao contrário dos humanos, os algoritmos trabalham 24 horas por dia, fazem sempre a mesma coisa, sem fugir de regras, e não têm medo de operar”, compara.
 (Foto: Revista Galileu)






















 
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 (Foto: Revista Galileu)


FAIL > O QUE PODE DAR ERRADO QUANDO OS ALGORITMOS FICAM SEM SUPERVISÃO
 (Foto: Revista Galileu)


 

ENTREVISTA: SEAN GOURLEY
> ELES NOS SUBSTITUIRÃO
Criador de algoritmos e consultor, Gourley prevê que eles trarão mais desigualdade

 (Foto: Revista Galileu)











O que os algoritmos trazem de bom e ruim?
Eles podem fazer coisas simples com precisão, rapidez e de forma barata. Já os humanos são tendenciosos, caros e propensos a cometer erros. Mas algoritmos também são primitivos em suas capacidades cognitivas.
Todos seremos controlados por eles?
As finanças, uma das maiores indústrias globais, já são controladas por algoritmos. Governos estão lutando para descobrir como regulá-los e reaver o controle de volta — o que pode ser uma batalha perdida. Agora que os algoritmos aprenderam a se aproximar da escrita utilizando processos estatísticos, vão ler mais rápido do que nós e dominar áreas do conhecimento, como o Direito, onde a leitura é fundamental. Mas humanos e algoritmos unirão forças para resolver os problemas mais difíceis. Chamo isso de “inteligência aumentada”. O único problema é que essa inteligência não deverá ser distribuída igualitariamente. Para piorar, muitos dos postos de trabalho hoje ocupados por pessoas da classe média acabarão ficando com algoritmos.
Correlações matemáticas já resolvem problemas sem identificar o porquê deles. Seria o fim da teoria?
Acho que o [Chris] Anderson exagerou quando defendeu isso [na revista Wired]. No Google, por exemplo, eles tentam determinar o tom de azul perfeito para o link do AdWords, executam milhões de testes sem saber por que essa é a cor certa, e sabem que funciona. Mas eles não estão tentando mudar o mundo. Em situações de conflito, política ou terrorismo você precisa de uma teoria. Noto isso nas redes sociais. Começamos a otimizar algoritmos para mostrar a informação que está de acordo com nossas crenças. Só mostramos a amigos que gostam das informações que compartilhamos. Nos movemos em uma bolha gerada por algoritmos, e não sabemos como eles tomam as decisões. Precisamos ter mais controle. Precisamos de uma teoria.

Onde estará a modelo que inspirou a Monalisa?

  (Foto: Reprodução)
Omistério que rodeia o corpo de Lisa Gherardini, a modelo imortalizada por Leonardo da Vinci como Monalisa, pode ser resolvido 600 anos após sua morte. Isso por que antropólogos e legistas pretendem fazer uma análise de DNA em restos ósseos que seriam desta nobre que viveu em Florença.
"Uma equipe de especialistas trabalha no DNA de uma mulher que poderia ser Lisa Gherardini", explicou Silvano Vinceti, presidente do Comitê Italiano para Avaliação de Bens Históricos, Culturais e Ambientais.
O paradeiro do corpo de Lisa Gherardini di Giocondo é um dos segredos mais bem guardados da história da arte, já que nem historiadores nem antropólogos legistas conseguiram esclarecer onde se encontra a musa de Da Vinci, morta, segundo documentos da época, em 1542. Sabe-se que foi enterrada no convento de Santa Úrsula, em Florença, pois há documentos escritos pelo pároco da igreja que confirmam o sepultamento.
"Isto é certo, Lisa Gherardini foi enterrada ali, mas em meados de século XVI a igreja sofreu uma remodelação", lembrou Vinceti, que explicou que foi então que se perdeu sua pista.
Agora as investigações, iniciadas há dois anos pelo Comitê Italiano para Avaliação de Bens Históricos, Culturais e Ambientais, para encontrar o lugar no qual repousa um dos rostos mais famosos do mundo, estão chegando na fase final. Há dois anos, cientistas do comitê presidido por Vinceti desenterraram o esqueleto de uma mulher contemporânea de Lisa Gherardini.
Para sua identificação foi aberta a Capela dos Mártires na basílica da Santíssima Anunciação de Florença, onde está enterrada a família de Gherardini. "Do sepulcro foram extraídos restos de seu marido, o comerciante florentino Francesco do Giocondo e de um de seus cinco filhos, Piero, além de Bartolomeo, outro filho, fruto do primeiro casamento de Giocondo", explicou.
Desde então os corpos foram submetidos a vários exames para determinar se verdadeiramente pertencem à família Giocondo, já que a capela foi vendida a outra família no século XVIII. Os resultados foram positivos, e agora, o paradeiro de Lisa parece estar a ponto de ser revelado, pois uma equipe de pesquisadores da Universidade de Bolonha (cidade) comparou o DNA dos restos ósseos achados em Santa Úrsula com o dos familiares da modelo imortalizada por Da Vinci na pintura do início do século XVI.
A equipe é dirigida por Giorgio Gruppioni, chefe do laboratório de Antropologia Óssea da Universidade de Bolonha, e Antonio Moretti, da Universidade de L' Aquila. "A extração do DNA não é uma tarefa fácil e exige tempo, por isso é impossível precisar uma data concreta em que teremos os resultados", explicou Vinceti.
Mas ela é a Monalisa? O que parece incontestável é que Lisa Gherardini foi a mulher retratada por Leonardo da Vinci. Vários documentos conservados no Arquivo de Estado de Florença demonstraram que Monalisa nasceu e viveu na Toscana italiana.
A nota encontrada na margem de um livro que é conservado hoje na biblioteca da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, confirma, pelo que Agostino Vespucci, amigo de Leonardo da Vinci, escreveu: "Leonardo se encontra trabalhando em três obras pictóricas, incluindo o retrato de Lisa Gherardini".
"Também o escritor Giorgio Vasari disse em 1550: 'Leonardo fez para Francesco Di Giocondo o retrato de sua esposa Mona Lisa'", acrescentou Vinceti.
La Gioconda, seu título original,  significa 'a sorridente' em italiano. É um óleo sobre madeira de 77 por 53 centímetros, pintado entre 1503 e 1519, e comprado pelo rei Francisco I da França no início do século XVI. Desde então é propriedade do Estado francês e está aberta à visitação no Museu do Louvre.
Em 1911 a obra foi roubada em Paris, e encontrada dois anos depois em Florença. Desde então nunca retornou ao berço do Renascimento, nem mesmo para uma exibição temporária. O comitê italiano luta há anos para que a pintura retorne temporariamente à Itália, e chegou a enviar uma carta ao diretor-geral de Patrimônio do Ministério da Cultura da França, Vincent Berjot, que descartou esta possibilidade.




OMetropolitan Museum of Art, mais conhecido como MET, de Nova York, acaba de disponibilizar mais de 400 mil imagens de seu acervo para download gratuito. E o melhor: elas estão em alta resolução. Ou seja, é possível ver este Manet em detalhes, até conferir as pinceladas do artista:
"Pescando" de Edouard Manet (Foto: Divulgação - MET)


De acordo com o diretor do museu, Thomas P. Campbell, a ideia faz parte da nova política de acesso livre à arte. "Nos unimos a um número cada vez maior de museus que fornecem acesso gratuito a imagens de domínio público". 
Para acessar o acervo, basta clicar neste link - as imagens abertas estão identificadas pela sigla OASC logo abaixo de sua miniatura. 
Museu do Amanhã contará com experimentos interativos (Foto: Divulgação)

A
partir de março de 2015, quem visitar a região portuária da capital fluminense terá a chance de entrar em contato com um ambiente repleto de experiências científicas. O Museu do Amanhã, como será chamado o espaço, permitirá que os visitantes explorem esse universo, aventurando-se por temas como pensamento, vida, mudanças climáticas, integração global e diversidade na natureza.
Recurso será invisível ao público, mas vai armazenar um banco rico de informações científicas
O que as pessoas que visitarem o museu não vão saber, no entanto, é que por trás das aproximadamente 80 experiências em que consistirá o local, há uma ferramenta intitulada como Cérebro, por meio da qual a equipe do Museu do Amanhã sistematizará novos dados sobre os temas abordados pelo espaço.
“Para que essas experiências sejam sempre atualizadas e possam passar informações sobre o amanhã de uma forma consistente, precisa existir um sistema por trás”, explica Paulo Armando, responsável pela área de desenvolvimento de software da Radix, empresa que desenvolveu o Cérebro. “Ele vai funcionar de forma a coletar informações de instituições de pesquisa do mundo todo — universidades americanas, a Nasa, centros de pesquisa europeus, centros nacionais.”
Visualização da ferramenta que alimentará o conteúdo do museu (Foto: Divulgação)

O recurso, que começou a ser desenvolvido em outubro de 2013, será invisível ao público, mas vai armazenar um banco rico de informações científicas (documentos, imagens e vídeos), que servirão de base para os experimentos do museu.
De acordo com Armando, o programa ainda tem a função de administrar visitas e fornecer informações mais profundas ao usuário na internet. “A equipe deseja que o museu procure identificar como foi a experiência e participação do usuário— quais experimentos visitou, quais informações procurou saber”, diz.
A ideia é que quando uma alguém entre no museu, receba algum tipo de identificação — como uma espécie de QR Code — e passe o código na experiência com a qual interagir. Mais tarde, ela ainda vai poder buscar mais informações sobre aquele tema no site do museu, ao informar o mesmo código.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Peladas

Armando Nogueira

 Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.
 E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.
 Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa.
 Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
 Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho. Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA – Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.
 No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.
 Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.
 Nova saída.
 Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

 O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança.
Sobre a crônica

Ivan Ângelo

 Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como “reportagens”. Um leitor os chama de “artigos”. Um estudante fala deles como “contos”. Há os que dizem: “seus comentários”. Outros os chamam de “críticas”. Para alguns, é “sua coluna”.
 Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que “crônica é tudo o que o autor chama de crônica”.
 A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de Pascal . Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer...
 Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem – e facilidades que a melhor poesia não se permite.
 Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido observa: “Até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se desenvolveu”.
 Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: “É nosso familiar essay , possui tradição de primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da época”. Veio, pois, de um tipo de texto comum na imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem-cerimônia e, no entanto, pertinente.
 Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente.
 A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é, leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura sensibilidades irmãs.
 Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela “não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando”.
 A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em “A vida ao rés do chão”: “Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma”. Ainda ele: “Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas”.
 Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, sectarismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade. Cronista mesmo não “se acha”. As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz professor Davi Arrigucci como “forma complexa e única de uma relação do Eu com o mundo”. Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia perguntado o que é crônica:

 — Se não é aguda, é crônica.
A última crônica

Fernando Sabino

 A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
 Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
 Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
 A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
 São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

 Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.